“So therefore I dedicate myself to myself,
to my art, my sleep, my dreams, my labors, my suffrances, my loneliness,
my unique madness, my endless absorption and hunger,
because I cannot dedicate myself to any fellow being.”
[ Kerouac, J. ]
preparei a mala logo cedo pela manha, levei apenas o essencial... poucas malas muita bagagem. saí depois do pequeno-almoço tinha uma ideia do destino mas estava um pouco incerta do caminho de deveria tomar. quando se viaja sozinha tem-se uma sensação de liberdade sem igual, despegamo-nos dos confortos da rotina e partimos para o incerto com a adernalina a preparar o corpo para a aventura. tenho um espirito intrépido, gosto do desconhecido, do novo, do diferente. apreciei a paisagem sem pressa, atenta à estrada, às placas, ao transito, às nuvens, ao sol, aos pássaros, às árvores, às casas, aos edifícios e construções.... os atalhos do pensamento tornaram o caminho muito mais curto e rapidamente cheguei onde era suposto estar. acomodei-me, fiz o reconhecimento do local, senti os cheiros e as gentes e deambulei pelas ruas, becos, monumentos, à procura de uma saída e de novas entradas. a noite trouxe consigo um frenesim diferente, outros cheiros, outras gentes. fui arrastada pela multidão, entrei na festa embriegada pela iteratividade das batidas e enfeitiçada pelas vozes sintetizadas. a musica inevitavelmente transporta-nos a uma outra realidade, só por ela acessível. toda a confusão que me rodeava não era menor que aquela que ia na minha cabeça. tenho constatemente a sensação que escolhi o caminho errado nalgum dos entroncamentos do fado e não sei muito bem como me safar desta existência labirintica. sem pensar demasiado no assunto prossigo, encho os pulmões de fumo e aconchego o estômago com liquido espirituoso, enquando as imagens projectadas se mesclam com frames e flashes mnemónicos das situações mais bizarras. é espantosa a filtragem da memória, que guarda durante anos sentimentos e quando os coloca a descoberto, mostra pormenores que não tinhamos reparado inicialmente. é espantoso também que quando estamos demasiado concentrados naquilo que já passou, não conseguimos ver na totalidade o que acontece no momento. apago o cigarro, encho os pulmões de oxigénio, esvazio o copo numa golada sequiosa, penso apenas no agora, varro o olhar na beleza do incógnito e danço alegrando-me por finalmente ouvir a musica e por estar na melhor das companhias, eu.
“A vida sem a música é simplesmente um erro, uma tarefa cansativa, um exílio”
[ Nietzsche , F. ]