Nascida na era dos sintetizadores, cresci ao ritmo sincronizado de batidas industriais, rodeada de estruturas metálicas e plataformas betonicas. Desenvolvi as minhas ideias em cabos de cobre e fibra óptica e sempre senti que estamos em mudança, sempre estivemos e em mudança continuaremos.
Há 5000 mil dias decidi dedicar todo o meu trabalho e energia nesta rede  inesgotavelmente esgotante. Tentei acompanhar o  seu desenvolvimento e  ir mais além num sentido positivo e proactivo. Devo à tecnologia as  grandes epifanias que tive ao longo do meu percurso e com ela quero ter  muitas mais. A era da informação é um desafio constante, ganhou vida  própria e é da responsabilidade de cada um de nós evoluí-la de forma a  resolver ou pelo menos minimizar os erros cíclicos da humanidade. Os  desafios que hoje nos são apresentados têm proporções globais que  poderão comprometer a nossa existência como individuo, a humanidade e no  limite (num limite assustadoramente próximo) todo o ecossistema e tudo  aquilo que denominamos por liberdade e vida. Sempre rodeados por mecanismos que nos ajudam a alcançar os nossos  objectivos e a ultrapassar todos os obstáculos, olhamos a tecnologia  como um dado adquirido, como nossa pertença e nossa posse. 
Falando especificamente da web, que num curto espaço de tempo passou de  um projecto militar, para depois ligar instituições de ensino e foi  paulatinamente absorvendo mais instituições,  serviços,  ideias,   negócios,  pessoas... observamos que nos últimos anos, em particular na  ultima década a sua utilização explodiu. A cada ano a cultura e  conhecimento produzido é aumentado em 30% e é medida e quantificada em  milhões e exabytes, 75% de toda a informação é criada por indivíduos e  milhões de utilizadores encontram-se agregados em redes, fascinados pela  partilha e pela magia da hiperligação. 
De edifícios repletos de válvulas passamos para grandes caixas, destas  para caixas ainda mais pequenas e destas nano  caixas com as quais  podemos fazer tudo o que é passível de ser feito na REDE. ELA extravasou  e saiu das caixas invadindo uma panóplia de objectos e superfícies,  todo o tipo de superfícies, ecrãs, mesas, paredes... com aplicações  fluídas e híbridas que passeiam no limiar da nossa capacidade  imaginativa e de processamento. Adaptamos a nossa vida e assistimos a  transformações físicas e cognitivas. Em vez de reter reagimos,   relacionamos, interligamos, quantificamos, reestruturamos,  transformamos-nos e reinventamos-nos... 
Queremos todo o espaço e todo o tempo e por isso encurtámos distâncias e  tentamos enganar as horas, vivemos mais, sentimos avidamente... temos   as nossas memórias, emoções e trabalho guardados em discos rígidos e  disponíveis na REDE, partilhamos a nossa existência  e para as nossas  perguntas obtemos milhões de resultados em menos de 0,18 segundos. A  informação tornou-se um bem precioso e algo que é necessário guardar e  transmitir, os dados estão interligados a uma escala global e tudo é de  toda a gente numa consciência cada vez mais interligada. 
5000 dias depois paro e penso no que me reserva os próximos 5000 dias, o  que eu quero fazer, o que posso fazer, o que queremos fazer e o que  podemos fazer com todo este potencial muito dele já materializado mas  pouco explorado. É certo, estamos num caminho sem retorno, a mudança é  irreversível,  já está em progresso e é necessário encaminha-la no  melhor sentido possível.  
A REDE irá continuar a crescer e desenvolver-se. Onde quer que estejamos  ou com quem quer que estejamos saberemos a historia e as estórias. Em  consequência, é necessário uma consciencialização de cada ser humano  como individuo e ser social, é necessário transparência, verdade e  trabalho. A libertação de artificialismos e preconceitos é imperativa  para que a rede e a tecnologia alcance o sua génese utópica. Penso que as coisas irão no sentido de um desenvolvimento cada vez mais  sustentável, respeitando as necessidades do individuo e daquilo que o  rodeia, a vida, as coisas simples e o que de facto é importante.  Haverá muitos avanços  no que respeita à cibernética.  As máquinas  humanizar-se-ão, a ciber segurança será pratica individual comum, a  computação humana intrínseca a cada um de nós. A REDE seremos nós e nós  seremos a REDE, numa simbiose cósmica de impulsos eléctricos e  transmissão de dados e emoções.  
Deixaremos de nos preocupar com futilidades... compras, impostos,  burocracias e problemas menores ficarão ao encargo da REDE, e todos os  aspectos da nossa vida estarão conectados a ela e ao mundo, a nós caberá  o papel de libertar a mente para encontrar melhores soluções e  optimizar a resolução de problemas, mais do que ideias, partilharemos  sonhos, vontades, atitudes. Criaremos verdadeiros e novos mundos  virtuais. Os jogos e programas ganharam outra dimensão, o trabalho será  um prazer e um comportamento natural, sem horários e obrigações. A REDE  será como que omnisciente e nós também através dela e alcançaremos o  sonho da nossa condição humana, a imortalidade.
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