estou triste como a noite. não que a noite seja sempre triste, mas existem noites em que a tristeza toma uma forma mais definida, tangível e demasiado palpável, que vê nas sombras, que se ouve nos uivos das matilhas distantes e que se sente no frio do nevoeiro denso e sombrio. hoje é uma dessas noites. em que constato mais uma vez que a vida é demasiado frágil, brutalmente efémera, pouco justa, severa. hoje ela morreu. sucumbiu à doença que sempre lhe correu nas veias e nas entranhas. o seu corpo demasiado magro deixou de resistir à falência lenta e cruel de cada um dos órgãos vitais. a luta tornou-se inglória e a morte uma benesse. não era humana mas movimentava-se pela casa como se fosse. não tínhamos nenhuma relação de parentesco, mas era família. não me despedi, nem sei dizer ao certo quando senti o seu pulsar pela ultima vez. fica a saudade, e eu triste, triste como a noite.