{Florbela}

 
"O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade? sei lá de quê!
 
"Estou cansada, cada vez mais incompreendida e insatisfeita comigo, com a vida e com os outros. Diz-me, porque não nasci igual aos outros, sem dúvidas, sem desejos de impossível? E é isto que me traz sempre desvairada, incompatível com a vida que toda a gente vive..."
  
"Lembra-te que o tempo tudo consome. E se assim não fosse, o que seria a nossa vida!? Um ermo cemitério em que cada cruz representaria um morto sempre vivo! Completamente impossível! Se o tempo consome o corpo dos que morrem, como não consumir a lembrança deles? E se assim não fosse, que vida seria a nossa!? Deus, dando-nos a dor, deu-nos também o esquecimento..."
 
"Eu julgo que a mulher verdadeiramente digna é aquela a quem repugna uma traição, seja ela de que natureza for."

"Sou bem diferente, sou, das outras mulheres todas. Eu quero antes os meus defeitos que as virtudes de todas as outras."
 
“… e não haver gestos novos nem palavras novas.”
 

{FLORBELA de Alma da Conceição ESPANCA (1894 – 1930)}
 

"Personalidade excepcional, de profunda riqueza interior, fez poesia da sua experiência de mulher, com superior consciência artística – poesia generosa, convulsa e ardente, em que toda a gama do amor se desdobra, da exaltação dos sentidos ao apetite de sacrifício, aos momentos de plenitude e de beatitude aos extremos de ternura  e aos de desencanto e sofrimento, ao ressaibo amargoso das análises lúcidas, à consciência da solidão na união, da dolorosa, inelutável alteridade.
Através de estados excessivos de transporte e de aniquilamento, numa vibração prodigiosa, que raros poetas atingem, mesmo numa lírica caracterizadamente emocional como a nossa, Florbela Espanca reflecte uma fundamental insatisfação ânsia de absoluto, de infinito."
 
In: J. Prado Coelho - Dicionário de Literatura - Figueirinhas – 1978