Sempre que venho a Lisboa sinto o aperto de todos os SEs das encruzilhadas da vida com que me deparei.
Gosto dos jardins, dos azulejos, do fado, da arte, do design, da cultura, da proliferação de ideias e modos de vida, da sardinha, das oportunidades, das vistas, da LISBOA... mas nesta cidade "apenas consigo estar, não consigo viver"... custa-me respirar no frenesim dos decibéis do transito, nos cheiros estranhos e nauseabundos dos transportes e das ruas cosmopolitas mas degradadas, tenho dificuldades em suportar o calor emanado pelo cimento, o alcatrão e o aço e cansam-me as distancias (onde tudo é tão perto)....
e ver tanta gente, tantos destinos traçados, vidas encruzilhadas e não encontradas, almas perdidas, errantes e solitárias, faz-me sentir ainda mais perdida...
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[Lisboa]
Lisboa com suas casas
De várias cores,
Lisboa com suas casas
De várias cores,
Lisboa com suas casas
De várias cores...
À força de diferente, isto é monótono.
Como à força de sentir, fico só a pensar.
Se, de noite, deitado mas desperto,
Na lucidez inútil de não poder dormir,
Quero imaginar qualquer coisa
E surge sempre outra (porque há sono,
E, porque há sono, um bocado de sonho),
Quero alongar a vista com que imagino
Por grandes palmares fantásticos,
Mas não vejo mais,
Contra uma espécie de lado de dentro de pálpebras,
Que Lisboa com suas casas
De várias cores.
Sorrio, porque, aqui, deitado, é outra coisa.
A força de monótono, é diferente.
E, à força de ser eu, durmo e esqueço que existo.
Fica só, sem mim, que esqueci porque durmo,
Lisboa com suas casas
De várias cores.
De várias cores,
Lisboa com suas casas
De várias cores,
Lisboa com suas casas
De várias cores...
À força de diferente, isto é monótono.
Como à força de sentir, fico só a pensar.
Se, de noite, deitado mas desperto,
Na lucidez inútil de não poder dormir,
Quero imaginar qualquer coisa
E surge sempre outra (porque há sono,
E, porque há sono, um bocado de sonho),
Quero alongar a vista com que imagino
Por grandes palmares fantásticos,
Mas não vejo mais,
Contra uma espécie de lado de dentro de pálpebras,
Que Lisboa com suas casas
De várias cores.
Sorrio, porque, aqui, deitado, é outra coisa.
A força de monótono, é diferente.
E, à força de ser eu, durmo e esqueço que existo.
Fica só, sem mim, que esqueci porque durmo,
Lisboa com suas casas
De várias cores.
{Álvaro de Campos - Fernando Pessoa}