poor, dear, silly Spring, preparing her annual surprise!
Stevens, W. (1879-1955)

{random poetry #115}


"Não digam a ninguém e deem o prémio a outro"

❀ 
Durante a primavera inteira aprendo
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço —
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra cai da curva sôfrega
dos meus lábios, sinto que me faltam
um girassol, uma pedra, uma ave — qualquer
coisa extraordinária.
Porque não sei como dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto,
a criança, a água, o deus, o leite, a mãe,
o amor,
que te procuram.



Eu digo que ninguém se perdoa no tempo. 
Que a loucura tem espinhos como uma garganta.




queria fechar-se inteiro num poema
lavrado em língua ao mesmo tempo plana e plena
poema enfim onde coubessem os dez dedos
desde a roca ao fuso
para lá dentro ficar escrito direito e esquerdo
quero eu dizer: todo
vivo moribundo morto
a sombra dos elementos por cima

❀ 

Herberto Helder (1930-2015)


The only way to make sense out of change is to plunge into it, move with it, and join the dance.
Watts, A. (1915-1973)