"Todos somos feridos, opacos, inacabados. Cada um de nós traz dentro de si uma quantidade irrazoável de sonhos sufocados, de pontas desacertadas, de palavras que nunca chegaram a ser ditas, de uma violência interior, mais difusa ou concentrada. Mesmo a nossa felicidade vem misturada com a memória de infelicidades que ainda nos ardem, mesmo que as calemos. Somos mais verdadeiros, porém, quando tomamos consciência disso e quando o partilhamos na confiança de uma amizade. Os mecanismos de autodefesa e de culpabilização só nos isolam mais. E a santidade, há de explicar Jesus a Pedro, não é a impecabilidade, mas este movimento profundo em nós de nos voltarmos para um outro, para o Todo-Outro, e deixarmo-nos atravessar por uma experiência de reconhecimento e misericórdia como na penumbra da catedral o vitral se deixa atravessar pela luz. O nosso pedido deve, por isso. ser: «Aproxima-te de mim, porque sou um homem pecador» atrevendo-nos a essa forma necessária e rara de audácia que é a humildade.
Mendonça, T., in Nenhum Caminho Será Longo
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