7 despertadores, com intervalos de 7 minutos a repetir 7 vezes cada um, é o barulho da rotina que nem te dás ao trabalho de quantificar. acordas tarde com o sabor na boca da pressa de quem não vai para lado nenhum. preparas 250 gr. de cereais misturados no pouco que sobra da gosma da esperança, 3 bagas de goji, 2 nozes e uma colher de chá de sementes de chia. algum alento, alguma energia, pouca fé. sais de casa com a sensação que te esqueceste de algo importante, trancas a porta.
meia hora a pé, 20 minutos de autocarro, 5 segundos de elevador e 50 000 cliques depois continuas a vasculhar na memória o que deixaste perdido nas gavetas, no armário, debaixo da cama ou em cima da mesa, mesmo à vista, à espera de ser encontrado.
vais almoçar. 3 minutos e meio é suficiente para aquecer a comida. carregas no botão e deixas as micro ondas penetrarem nos alimentos e aquecerem as partículas dos poucos nutrientes que sobreviveram à fervura. talvez ficou pendurado no cabide da casa de banho, ou no banco ao pé da lareira. o sinal sonoro da caixa electromagnética, semelhante às campainhas antigas dos correios, assinala que o conduto já está quente, pronto a ser degustado. mas a fome já não é nenhuma.
25 000 cliques, 3 relatórios, 2 briefings, um deadline até ao final do dia e o único pensamento que te deixa nervoso é não saber o que te falta. ficou em cima do sofá ou na banca da cozinha.
corriges os bugs, compilas o projeto e envias em anexo a produtividade.
sorris.
às vezes esqueceste que gostas do que fazes, que cada toque do despertador tem uma melodia diferente, que se repete síncrona e assincronamente criando uma nova melodia todos as manhãs. não te lembras que tens para onde ir, e mais importante que tens onde ficar. não reparas que cada cereal tem uma cor diferente e que o sabor varia conforme o que lhes juntas. não estás atento à brisa ora suave, ora gélida. ficas indiferente às pessoas do autocarro que têm histórias distintas (mas todas elas interessantes) e ao elevador que, por norma, está avariado. não escutas as piadas dos colegas, e nem sempre dás o valor devido ao café da manha que partilhas com os amigos e aos risos contagiantes de quem anda cansado mas não desiste.
não te vem à memória que às vezes a única coisa que te falta é perspectiva.
love your work, work your love.