deixei de estar à espera. passaram 615 autocarros, 20 táxis, 17 luas cheias, 1 lua azul, 7 pedintes, 3 unicórnios, um punhado de viajantes e alguns oportunistas. percebi que não vinhas, percebi que nunca tiveste intenção de vir, percebi que nunca estive à tua espera. não chove, apesar do céu pesado de nuvens cinzentas e ácidas. paira no ar um nevoeiro ténue do fumo dos vários incêndios da alma e da gente, prelúdio de renovação. deixei a paragem. fui caminhar nos campos e beber os últimos raios de sol quente, tímido mas firme. fui correr entre os grãos finos de areia molhados e gélidos, entre as escarpes íngremes e inóspitas, entre a lama e a terra acabada de lavrar. fui porque tenho por hábito viver.